Como deve ser o uso da testosterona na mulher? Conteúdo voltado para médicos especialistas

Endocrinologia

Como deve ser o uso da testosterona na mulher? Guia completo para médicos especialistas

 

Em outubro, o tema saúde feminina ganha destaque, sendo amplamente discutido em campanhas de conscientização e cuidados preventivos. Nesse contexto, questões relacionadas à saúde sexual também merecem atenção especial, principalmente quando falamos sobre o papel dos hormônios na qualidade de vida das mulheres.

A reposição hormonal, muito conhecida por seu uso na menopausa, inclui diversas estratégias para tratar sintomas que impactam diretamente o bem-estar das mulheres. Entre essas opções, a reposição de testosterona tem se destacado como uma abordagem possível, embora ainda envolta em muitas dúvidas, principalmente em relação à sua indicação, dose, aplicação e monitoramento. Este artigo tem como objetivo esclarecer como deve ser o uso da testosterona na mulher, abordando suas indicações, cuidados e as melhores práticas para o tratamento.

Testosterona na mulher: Quando é indicada?

A principal e única indicação formal da reposição de testosterona em mulheres é para o tratamento da Desordem do Desejo Sexual Hipoativo (DDSH), especialmente em mulheres na pós-menopausa que já estejam com a terapia hormonal otimizada, mas ainda apresentam queixas persistentes de disfunção sexual. Essa disfunção afeta diretamente a qualidade de vida da mulher, reduzindo seu desejo sexual e aumentando o sofrimento emocional.

Segundo o posicionamento da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) de 2019 e outras diretrizes internacionais, como a The North American Menopause Society (NAMS), a testosterona pode ser utilizada para melhorar o desejo sexual em mulheres que se encontram nessa condição. Contudo, é importante ressaltar que essa indicação é bastante restrita, e o uso de testosterona em outros contextos não tem comprovação de benefícios ou segurança, como será discutido ao longo deste artigo.

O papel da testosterona na saúde sexual feminina

A testosterona, conhecida principalmente como um hormônio masculino, também está presente em mulheres, embora em quantidades muito menores. Nas mulheres, a testosterona é produzida pelos ovários e pelas glândulas suprarrenais, e desempenha um papel importante na manutenção do desejo sexual, na energia física e na sensação de bem-estar. Durante a menopausa, os níveis de testosterona nas mulheres diminuem gradualmente, o que pode contribuir para a perda de libido e outros sintomas relacionados à função sexual.

No entanto, a reposição de testosterona não deve ser feita indiscriminadamente, pois seus efeitos colaterais podem ser significativos. O aumento excessivo dos níveis de testosterona no corpo feminino pode resultar em efeitos colaterais como acne, crescimento de pelos faciais (hirsutismo), alterações na voz e aumento do clitóris. Portanto, o tratamento com testosterona deve ser cuidadosamente monitorado para garantir que os níveis hormonais permaneçam dentro dos limites adequados e que os benefícios superem os riscos.

Qual formulação de testosterona utilizar?

Atualmente, a única formulação de testosterona recomendada para o tratamento da Desordem do Desejo Sexual Hipoativo (DDSH) em mulheres é a formulação transdérmica, ou seja, a testosterona administrada através da pele, geralmente em forma de gel. Essa via é considerada a mais fisiológica, uma vez que proporciona uma liberação gradual do hormônio, mantendo níveis séricos mais estáveis e seguros.

Outras apresentações de testosterona, como injeções intramusculares ou implantes subcutâneos, devem ser evitadas, pois podem levar a níveis séricos suprafisiológicos, ou seja, níveis mais altos do que o considerado natural para o corpo feminino, o que aumenta o risco de efeitos adversos. Da mesma forma, as preparações orais de testosterona são contraindicadas, pois trazem um risco elevado de hepatotoxicidade, ou seja, danos ao fígado.

Portanto, a melhor prática para o uso de testosterona em mulheres é a aplicação tópica, que permite um controle mais seguro e eficaz dos níveis hormonais.

Qual dose de testosterona prescrever?

Uma questão que frequentemente surge no consultório médico é: qual é a dose correta de testosterona para uma mulher? A recomendação geral é que as mulheres utilizem apenas 10% da dose normalmente prescrita para homens. No caso da testosterona transdérmica, isso equivale a aproximadamente 5 mg por dia.

Infelizmente, a comercialização de testosterona em formulações adequadas para mulheres é limitada. Atualmente, a Austrália é o único país que possui uma formulação específica para mulheres (testosterona em gel a 1%, o que corresponde a 10 mg/ml). Em outros países, a única opção é a manipulação, ou seja, a formulação do medicamento em farmácias especializadas de acordo com a prescrição médica.

Embora seja possível adaptar a dose de uma formulação transdérmica masculina disponível, essa prática é desencorajada, pois aumenta o risco de erros na aplicação e pode resultar em doses excessivas de testosterona, com todos os efeitos colaterais associados.

Onde aplicar a Testosterona?

A correta aplicação da testosterona em gel é fundamental para garantir sua eficácia e segurança. A recomendação é que a aplicação seja feita nas panturrilhas, na parte superior externa das coxas ou nos glúteos. Essas áreas oferecem uma boa superfície de absorção e minimizam o risco de transferência acidental do hormônio para outras pessoas.

A transferência de testosterona é um risco real, especialmente se o gel entrar em contato com a pele de crianças, mulheres ou animais de estimação. Por isso, é fundamental orientar as pacientes a lavar as mãos após a aplicação e evitar o contato direto de outras pessoas com a área tratada até que o gel esteja completamente absorvido. Embora o risco de transferência para um parceiro masculino seja menor, ele também deve ser evitado, principalmente logo após a aplicação.

Monitoramento do tratamento com testosterona

O acompanhamento adequado da terapia com testosterona é essencial para garantir a segurança do tratamento e ajustar a dose quando necessário. Embora a dosagem de testosterona total no sangue não seja necessária para diagnosticar a Desordem do Desejo Sexual Hipoativo, ela pode ser útil para o monitoramento do tratamento. O objetivo é manter os níveis de testosterona dentro de limites fisiológicos, ou seja, dentro dos níveis considerados normais para mulheres.

Antes de iniciar o tratamento, recomenda-se realizar uma dosagem basal de testosterona para servir de referência. Após o início da terapia, uma nova dosagem deve ser feita entre 3 a 6 semanas para verificar se os níveis hormonais estão dentro do esperado. Caso os níveis estejam acima do limite superior da normalidade, a dose de testosterona deve ser reduzida.

Além disso, a avaliação dos níveis de SHBG (Globulina Ligadora de Hormônios Sexuais) é importante, pois mulheres com níveis elevados dessa proteína tendem a responder menos ao tratamento. Contudo, níveis elevados de SHBG não justificam o aumento da dose de testosterona, uma vez que isso pode aumentar o risco de efeitos adversos.

Além da avaliação laboratorial, o acompanhamento clínico é fundamental. A presença de sinais de hiperandrogenismo, como acne e crescimento excessivo de pelos, deve ser monitorada de perto. Se esses sinais aparecerem, a dose de testosterona deve ser reduzida imediatamente.

Como avaliar a resposta ao tratamento?

A resposta ao tratamento com testosterona é basicamente clínica, ou seja, avaliada com base na melhora dos sintomas relatados pela paciente. O principal objetivo é o aumento do desejo sexual e a redução do sofrimento causado pela disfunção sexual.

Normalmente, as pacientes começam a notar uma melhora após 6 a 8 semanas de tratamento, com o efeito máximo ocorrendo em torno de 12 semanas. Se, após 6 meses de terapia, a paciente não apresentar melhora significativa, o tratamento deve ser interrompido, pois a falta de resposta indica que a reposição de testosterona não está sendo eficaz.

Vale destacar que o tratamento com testosterona deve ser sempre individualizado e ajustado de acordo com as necessidades e resposta de cada paciente. Portanto, a avaliação constante do progresso é crucial para garantir o sucesso da terapia.

Efeitos colaterais e precauções

Embora a reposição de testosterona possa ser eficaz para o tratamento da DDSH, seu uso não é isento de riscos. Como mencionado anteriormente, doses excessivas de testosterona podem levar a uma série de efeitos colaterais, incluindo acne, aumento de pelos faciais, engrossamento da voz e aumento do clitóris. Esses efeitos são geralmente revertidos com a interrupção do tratamento ou com a redução da dose, mas podem ser desconfortáveis para a paciente enquanto persistem.

Outro efeito colateral importante a ser monitorado é a função hepática. Embora a testosterona transdérmica tenha um menor impacto sobre o fígado em comparação com as formulações orais, ainda é importante monitorar periodicamente os níveis de enzimas hepáticas para garantir que o tratamento não esteja causando danos.

O perfil lipídico também deve ser avaliado, uma vez que a reposição hormonal pode afetar os níveis de colesterol e aumentar o risco de doenças cardiovasculares, especialmente em mulheres com outros fatores de risco, como hipertensão ou obesidade.

A testosterona também pode interferir no humor e no comportamento. Algumas pacientes relatam um aumento da irritabilidade ou até mesmo agressividade durante o tratamento. Esses sintomas devem ser cuidadosamente monitorados, e a dose de testosterona deve ser ajustada conforme necessário.

Por fim, é importante lembrar que a reposição de testosterona não é recomendada para mulheres que desejam engravidar ou estão grávidas, pois pode prejudicar o desenvolvimento fetal.

Contraindicações ao uso da testosterona

A testosterona não deve ser utilizada por mulheres que estejam grávidas, amamentando ou tentando engravidar. Além disso, mulheres com histórico de câncer de mama, câncer de útero, ou outras condições sensíveis a hormônios também não devem fazer uso dessa terapia, pois a testosterona pode estimular o crescimento de células cancerígenas.

Outras contraindicações incluem doenças hepáticas graves, como cirrose, e doenças cardiovasculares não controladas. Em mulheres com essas condições, os riscos da terapia com testosterona superam os potenciais benefícios, e outros tratamentos devem ser considerados.

Considerações finais

O uso da testosterona na mulher é um tema complexo e que exige cuidados específicos. Embora seja uma ferramenta eficaz para o tratamento da Desordem do Desejo Sexual Hipoativo, seu uso deve ser restrito a essa indicação e realizado sob supervisão médica rigorosa. A escolha da formulação, a dose adequada e o monitoramento constante são fundamentais para garantir a segurança e eficácia do tratamento.

Além disso, é essencial que a paciente esteja ciente dos riscos e efeitos colaterais associados ao tratamento e que tenha expectativas realistas quanto aos resultados. O sucesso do tratamento com testosterona depende de uma abordagem individualizada, baseada nas necessidades e respostas de cada mulher.

Se você, paciente, chegou até aqui e quer saber sobre o uso de testosterona ou se essa terapia pode ser adequada para você, converse com seu médico. Ele poderá avaliar seu caso e orientá-la sobre a melhor abordagem para tratar suas queixas sexuais e melhorar sua qualidade de vida.

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